Em números: só no Brasil as vidas de 43 milhões
de bois seriam poupadas, quase 40 milhões de porcos e 4,5 bilhões de frangos a
cada ano. Esses são animais de corte, criados para virar comida. O que
significa que eles não foram nutridos e tratados para entrar em outras linhas
produtivas, como de leite ou ovos. Sem haver consumo de carne, eles cairiam num
desemprego funcional: não teriam mais função nas fazendas, ou seja, seriam “libertados”.
Apesar de linda, a liberdade tem preço. Sem quem os alimentassem, teriam de
buscar comida. Competiriam por alimento com outras espécies e ficariam
vulneráveis a ataques de predadores. Em áreas de pastagens, como nos Pampas
brasileiros, a vida seria boa. Já no Pantanal, boizinho teria de enfrentar até
onça.
Enquanto isso, os açougues fechariam as portas,
junto com abatedouros e frigoríficos. Pior para o Brasil, maior exportador de carne de boi e de frango do mundo, além de quarto na exportação
de carne suína. A economia de EUA, China e União Europeia também
sofreria. Esses países produzem muita carne para atender à demanda de seus próprios habitantes. Já os
ambientalistas comemorariam, e não só porque pararíamos de matar bichos. A
pecuária tem um grande impacto ambiental. De todo o desmatamento causado no
mundo, 14% acontece na Amazônia para abrir espaço para a criação de animais.
Derrubaríamos menos árvores, o que, de quebra, contribuiria para reduzir o peso
de nossas emissões de gases. Não comeríamos feijoada, peru de Natal, bacalhau. Isso
não significa necessariamente mais saúde. Perderíamos vitaminas, proteínas e
minerais. Teríamos de nos adaptar a uma nova dieta. Essa não seria a única
mudança na rotina: seu guarda-roupas também passaria por uma revolução.
Se essa prática realmente viesse à tona, cachorros e gatos seriam animais de
dondoca, mas esses bichanos também são carnívoros e precisam de carne para absorver
nutrientes assim como nós. As fazendas teriam de manter o abate de animais só
para produzir ração para cães e gatos, o que encareceria o produto. A alternativa
seria adotar um porquinho selvagem, que tem uma dieta mais flexível.
Em um mundo sem churrascaria, o jeito
seria se contentar com rodízios de carne de soja e buscar outras fontes para os
nutrientes que absorvíamos ao comer carne. O caso mais crítico seria o da
vitamina B12, presente naturalmente só em fontes animais. Ovos nos ajudariam
nisso, assim como suplementos sintéticos.
Consumir carne seria como prostituição
no Brasil: legalmente permitido, um crime aos olhos da sociedade. Os revoltados
teriam de procurar açougues clandestinos, que dependeriam da ação de
fazendeiros gananciosos e venderiam carne de qualidade duvidosa.
Os animais livres teriam de procurar
alimento sozinhos. Por que não aproveitar aquela plantação verdinha tão
suculenta? Porcos comem de tudo - de estômago vazio, não se refreariam frente a
ovos e pintinhos. À procura de alimento, os animais perambulariam até pelas
cidades. Seriam as novas pragas.
Esqueça sapato, bolsa, casaco de couro.
Ter um artigo desses seria tão reprovável quanto comer feijoada gorda. Os
sapatos mais formais precisariam de materiais alternativos, como plástico,
borracha e couro falso. Com o marketing correto, o sapatênis poderia ser a
estrela dessa nova era.
Enfim, será que vale a pena mesmo
abraçar essa causa de forma tão radical? Qual é a melhor maneira de satisfazer
ambos os lados?
por: Jullyane Freitas
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